sexta-feira, 17 de julho de 2009

A influência pós-moderna no contexto neopentecostalista

postado por: Felipe Ferreira Inácio


São impressionantes as áreas em que o pós-modernismo tem afetado nossa cultura. As artes, a filosofia, a indústria cinematográfica, enfim, cada esfera da vida tem sido transformada por essa cosmovisão que arrebanha multidões por onde passa. Seja pelo fracasso do ideal iluminista, seja pelo interesse de uma nova filosofia que surge no mercado, o pós-modernismo tem expandido seus limites, a ponto de ser facilmente encontrado em púlpitos evangélicos.

O pós-modernismo é caracterizado pelo abandono da verdade como objetiva. É uma crítica severa a cultura ocidental cuja ilusão é de que a ciência é capaz de solucionar todos os problemas da humanidade. Stanley J. Grenz escreve: “ A mente pós-moderna recusa-se a limitar a verdade à sua dimensão racional e, portanto, destrona o intelecto humano de sua posição de árbitro da verdade. Segundo os pós-modernos existem outros caminhos válidos para o conhecimento além da razão, o que inclui as emoções e a intuição.” Duas facetas do pós-modernismo são dignas de nossa atenção, são elas o desconstrucionismo e o pragmatismo.

O desconstrucionismo é uma teoria literária cujo objetivo é desconstruir qualquer fundamento transcendental para a interpretação de um texto. De acordo com esse pensamento, vários significados podem emergir da leitura de um único texto, pois não há um referencial objetivo para a interpretação. O filósofo alemão Hans-Georg Gadamer acreditava que o significado de uma leitura ocorre quando há um diálogo entre o leitor e o texto, quando há uma fusão de horizontes, é o que ele chamava de “conversação hermenêutica”. Mais radical ainda é o filósofo francês Jacques Derrida. Este ridicularizava o logocentrismo presente no pensamento ocidental. Segundo Derrida, não pode haver nada fora do texto como referencial. Qualquer que seja a teoria para interpretar um texto, haverá outros significados. Para ele, o desconstrucionismo não é uma técnica interpretativa, mas um meio de descontruir qualquer fundamento hermenêutico imposto ao texto.

Quanto ao pragmatismo pós-moderno, o expoente de maior impacto é o filósofo americano Richard Rorty, porém, o pragmatismo em si teve início bem anterior a este, com Charles Peirce, William James, John Dewey, entre outros. De uma forma bem grossa, o pragmatismo é uma teoria que diz que a verdade é aquilo que funciona. Essa ideologia traz consigo uma visão não-realista do mundo, ou seja, uma afirmação é verdadeira a partir de uma convenção humana ao invés de corresponder a realidade objetiva. Conseqüentemente, a verdade será aquilo que satisfará a “teia de crenças” de uma comunidade. Quanto a essa “teia de crenças” Richard Rorty deixa bem claro: “É inútil indagar qual vocabulário está mais próximo da realidade, uma vez que diferentes vocabulários têm objetivos distintos, e não existe tal coisa como um propósito que esteja mais perto da realidade do que outra...”.

Após essa breve análise, há quem diga que tal filosofia nunca foi pregada em qualquer igreja protestante. Talvez não de uma forma estrutural, no entanto, vários líderes têm aplicado essa cosmovisão por trás de suas ideologias. O maior representante dessa aceitação seria os neopentecostais. Estes estão para o pós-modernismo, assim como as Igrejas liberais estavam para a modernidade. A aprovação do aborto indiscriminadamente, a aceitação do homossexualismo, o uso de objetos supostamente miraculosos são exemplos de como a pós-modernidade tem influenciado o neopentecostalismo.

Adotando uma visão pragmática da verdade, os líderes dessas igrejas não se preocupam mais em alimentar o seu rebanho com uma crença genuinamente bíblica, não porque esta na realidade não funcione, mas porque as pessoas querem solução instantânea para os problemas do dia-a-dia. Uma doutrina bíblica requer tempo e acima de tudo a iluminação do Espírito Santo. Assim o neopentecostalismo abandona a teoria da correspondência por ser mais “complicada” e passa a aceitar a teoria pragmática. Agora o membro não precisa mais se preocupar com que a Bíblia diz, muito menos com a interpretação proposta pelos reformadores, basta se preocupar se tal crença está funcionando. Se um neopentecostal é questionado se sua crença é verdadeira, geralmente ele responde que a sua igreja é a que mais cresce, ou que já foi “abençoado” financeiramente ou fisicamente por meio de sua igreja. Assim, ele não se preocupa em dar uma resposta bíblica ao conjunto de verdades que assume, mas ele responde baseado no resultado. O leitor deve se perguntar se um neopentecostal não ficaria horrorizado em abandonar as Escrituras. No entanto, segundo essa visão, eles não abandonam a Bíblia, eles simplesmente adotam uma hermenêutica desconstrucionista para interpretá-la. Observando superficialmente a idéia neopentecostal, alguém poderia ser tentado a admitir que este é verdadeiro. No teste da funcionalidade as igrejas neopentecostais passam, e observando as inúmeras contradições hermenêuticas que surgem no público evangélico dá a entender que não há uma verdade absoluta.

Devemos salientar dois pontos importantes: 1. O verdadeiro sentido de um texto sempre será o mesmo em qualquer região ou período da história. Quando o Espírito Santo inspirou os escritores da Bíblia ele desejou comunicar uma verdade, e se Ele comunicou é porque tinha certeza que iríamos compreender. Obviamente, uma pessoa pode interpretar algo totalmente diferente da intenção do Espírito, porém, isso não quer dizer que sua interpretação esteja correta, mas que o leitor não utilizou as ferramentas de interpretação dadas por Deus. A divergência de opiniões não deve conduzir a um relativismo, mas sim a consciência de que uma das partes está equivocada. Assim, a interpretação verdadeira não consiste em entender aquilo que o leitor deseja, antes em compreender a intenção do autor que ocorrerá quando as barreiras que os separam forem quebradas. 2. O argumento de que o índice de crescimento das igrejas neopentecostais é maior, ou de que a prosperidade e a cura financeira é maior nessas denominações é falho. Nem tudo que funciona é verdadeiro. Qual médico não seria questionado se detectasse que seu paciente sofre de câncer e ao invés de contar ao mesmo, esconde para que assim o paciente possa viver tranqüilamente? Ou que marido não seria questionado se ao invés de contar à esposa que tem uma amante, se calasse para que assim o seu casamento não seja rompido? Nesses dois casos, o objetivo final é bom, no entanto, o meio de se obter esse resultado é mau. Para que o neopentecostalismo seja verdadeiro, ele não deve se apoiar em uma teoria como esta, mas abraçar uma cosmovisão puramente bíblica.

Para concluir, seria ignorância dizer que o pós-modernismo de uma forma geral é pernicioso. Há muitos aspectos positivos nessa filosofia, principalmente o ataque à ilusão iluminista de que a razão é o centro de tudo. Não cabe aqui, fazer um relato minucioso sobre o pós-modernismo. O objetivo principal desse artigo é demonstrar a influência negativa que o pós-modernismo causou no meio neopentecostal. Muitas pessoas têm desconhecido as fontes em que estão bebendo. Não há erro em adotar estratégias para atingir a geração pós-moderna, porém, a partir do momento em que não há mais diferença entre o pensamento cristão e o mundano, a Igreja deixa de ser iluminadora e passa a ser reflexo de uma cosmovisão cujo centro não é a verdade divina.

4 comentários:

Onesimo Mesquita disse...

È uma pena o que estamos vendo em nossos dias no Brasil.O pós-modernismo ganhou seu lugar e agora briga pelo uso capeão,e pelo que já estou vendo vai ganhar, a menos que aqueles que são os verdadeiros proprietarios tome uma posição mais forte.
Temos que verdadeiramente lutar contra esse relativismo que só traz maleficios para nosso tempo.

Gostei do post,continue nessa luta pela verdade!

Semper reformata!

Unknown disse...

Muito boa essa sua postagem meu amigo. A muita ilusão no pós-modernismo dentro das igrejas evangélicas no Brasil. Devemos orar e ensinar as pessoas para não caião nessa cosmovisão barata.

Soli deo gloria!

Felipe Inácio disse...

Obrigado meus amigos!
Verdadeiramente, os malefícios causados por essa cosmovisão são bem maiores que os benefícios.
Nosso papel é elevar a cosmovisao neotestamentária e gritar que Deus é o Senhor em tudo!

Que Deus em Cristo vos abençõe!

Soli deo gloria!!!

Anônimo disse...

Grande Felipe, fico estarrecido com tamanha agressão aos textos sagrados que esses supostos cristãos (pseudo) vem fazendo com a palavra de Deus. parabéns pela iniciativa de denunciar esses camaradas que vem fazendo uso de algo tão maligno e alerta aos que estão sendo envolvidos com práticas reprovadas.
vaso que Deus te abençoe e continuemos em defender o Evangelho de nosso Senhor.
ir.Ronys.