segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Devocional: “Refugando o lixo”

“Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo e ser encontrado nEle..Quero conhecer Cristo” Filipenses 3:8-10

Quando Paulo diz que considera as coisas que perdeu como “esterco” (ou “lixo” conforme a TEB), ele não quer dizer apenas que não lhes atribui nenhum valor, mas também que não tem mais aquelas coisas em mente.
Que pessoa normal passaria o tempo todo sonhando nostalgicamente com esterco? Porém, é isto que muitos de nós, de fato, estamos fazendo. Isto mostra quão pouco temos alcançado do verdadeiro conhecimento de Deus.
Não há espaço para idéias inúteis na mente dos que realmente conhecem a Deus. Eles não ficam pensando em como poderia ter sido. Eles nunca pensam nas coisas que perderam, mas apenas no que ganharam.
“Mas o que para mim era lucro, passei a considerar como perda, por causa de Cristo” escreveu Paulo. “Mais do que isto, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas” (Fp 3.7-8).

Para meditar: Quais as suas “posses” valiosas que devem ir para o lixo? Escreva uma oração “lançar ao lixo”. Leia Filipenses 3:4-6 para obter sugestões.



-- Por J.I.Packer no devocionário “O conhecimento de Deus apo longo do ano”--

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Cristianismo, colocando a matemática no seu lugar

Postado por Antonio Ronys


Introdução

A matemática sempre esteve presente na vida do homem,e o mesmo,sempre precisou dela no seu dia a dia.No início, a matemática era usada pelas antigas civilizações como a suméria, a egípcia, e a babilônica em necessidades diárias. Essas civilizações de início não consideravam a matemática uma disciplina em si, para eles os números e as figuras geométricas eram apenas instrumentos para fins práticos,a geometria antes dos gregos era puramente experimental e que os gregos foram os primeiros a introduzir o raciocínio dedutivo.Foram os gregos antigos, iniciando com Pitágoras e Tales de mileto no século VI A.C, que sistematizaram pela primeira vez os critérios práticos da matemática,pois os mesmo viajavam de sua terra ao Egito para ver o que havia de novo em matéria de geometria.Relatos mostram que o “teorema de pitágoras” já existia a muito tempo na Babilônia,mas foi Pitágoras que sistematizou.

Os gregos também desenvolveram uma metodologia para matemática e no meio desse curso eles fizeram perguntas epistemológicas, como: De que maneira buscar as verdades matemáticas? Ou como saber de fato suas verdades? A resposta apareceu. Os gregos disseram que o conhecimento infalível podia ser obtido ao se começar com alguns axiomas fundamentais e auto-evidentes e deduzia a partir deles um conjunto de verdades, método conhecido como método axiomático. Uma das figuras que se destacou foi Euclides com seus postulados e axiomas concernente a geometria, que durante quase dois mil anos vem sendo chamado como verdades auto-evidentes. Esse foi o legado deixado para a cultura ocidental.

Segundo Pitágoras, e conseqüentemente Platão, a matemática faz parte de um mundo ideal (uma esfera de princípios, idéias ou formas), segundo os mesmos, para se ter o conhecimento do mundo ideal (matemática), não podemos apenas examinar o mundo material, pois segundo seus pressupostos, a matéria contém características, atributos independentes que faz com que entre em conflito com o mundo das formas, gerando assim uma idéia que a matéria não está em harmonia com matemática (mundo das idéias).

O mundo das idéias de Platão fazia uma dicotomia entre “dois mundos” um perfeito(patamar de cima),e outro com imperfeição(patamar de baixo),ou seja,aquilo que temos aqui na terra tem apenas sombra da perfeição do que há no “mundo das idéias”,segundo esse pressuposto,antes de uma forma existir,a sua idéia já existe,mas que a forma tem algumas propriedades independentes que faz com que elas não assuma a forma perfeita.Pensando assim,Platão tentou explicar “o caos” que existe no mundo,então para Platão e seus seguidores ficava difícil harmonizar a matemática que era considerada do patamar de cima com o mundo físico.

Então que relação tem a matemática com o mundo físico? há ou não harmonia entre a matemática e o mundo físico? Somente o pressuposto cristão soluciona esse paradoxo proposto pelos gregos, considerados os pais da matemática. Um Deus poderoso e inteligente, criativo que criou o mundo com leis coerentes e apreensíveis, este pressuposto bíblico deu vida aos trabalhos científicos, especialmente depois da reforma protestante onde os reformadores rejeitaram o dualismo natureza/graça da igreja medieval e começaram a ensinar que é possível honrar o criador ao estudar sua criação, pois um Deus racional criou o mundo com uma estrutura coerente.

O pressuposto cristão deu uma alavancada. Os antigos cientistas não eram totalmente coerentes com o protestantismo histórico, mas a base de suas idéias estava em consonância com o que o cristianismo diz em relação ao mundo criado (Sl 19:1). Observe o que Isaac Newton (1643 – 1727), que era anglicano e acreditava que Deus criou o mundo com leis perfeitas e que o mundo físico está em correspondência com essas leis, disse em sua obra General Scholium: “o belíssimo sistema de sol, de planetas, e de cometas só podem ter se originado do desígnio e domínio de um ser inteligente e poderoso”. Quem pensa que ciência e religião são antagônicas, está enganado, seu equívoco está em não conhecer o Cristianismo de forma completa.

Nos dias de hoje há uma dicotomia entre fato e valor, colocando o cristianismo no patamar de “valor” e não como uma verdade absoluta que é. A verdade é que não podemos entender, de fato, figuras como Newton, Descartes ou Cuvier sem investigar as idéias religiosas e filosóficas que impulsionaram os seus trabalhos científicos.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Devocional "Checando os motivos"

“O conhecimento traz orgulho...Quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria.” 1 Coríntios 8:1-2

Antes de começarmos a subir a montanha do conhecimento das coisas de Deus, precisamos perguntar a nós mesmos: Qual é o meu alvo principal ao ocupar a mente com esses temas? O que pretendo fazer com o conhecimento sobre Deus? Porque este é o fato que temos de enfrentar: se procuramos o conhecimento teológico como um fim em si mesmo, é certo que não chegaremos a bom termo. Isto apenas nos fará orgulhosos e convencidos. A própria grandeza do assunto acabará nos intoxicando e podemos pensar que estamos um nível acima dos outros cristãos por causa de nosso interesse e compreensão do assunto. Então, passaremos a olhar de cima para baixo aqueles cujo conhecimento teológico nos parece primário e inadequado.
Estudar a Bíblia apenas para saber todas as respostas é o caminho mais curto para se tornar presunçoso e enganar a si mesmo. É necessário guardar nossos corações contra essa atitude e orar para que Deus nos mantenha longe disso.

Para meditar: O que você pretende fazer com o conhecimento de Deus? (seja honesto).


--Por: J.I.Packer no devocionário “O conhecimento de Deus ao longo do ano” --

sábado, 17 de janeiro de 2009

Resgatando a genuína devoção


Postado por Diêison Oliveira

Devoção deixou de ser uma palavra usual no vocabulário evangélico contemporâneo. Talvez porque outros termos, considerados mais “espirituais”, tenham adquirido certa predileção em nossa terminologia religiosa: unção, bênção, visão, vitória, santificação, poder, avivamento, revelação etc. Porém, trata-se de um termo que nos ajuda muito a esclarecer o sentido da adoração e a evitar equívocos interpretativos. Usamos as vezes a expressão “devotos de Jesus” para referir-se aos discípulos do Senhor. Ao dizer ou ouvir esse jargão, não consigo conceber a idéia de pessoas que assimilaram apenas princípios teológicos teóricos ou históricos, mas indivíduos profundamente conectados à pessoa de Cristo. Na vida cristã, um dos alvos é crescer em maturidade a fim de nos tornarmos semelhantes a Jesus. E a devoção certamente é o caminho para esse crescimento espiritual. Quando nos devotamos totalmente a Deus é alicerçado um relacionamento sobrenatural. Essa intimidade com Deus se inicia no coração do devoto. É por isso que palavras como sacrifício, entrega e rendição são essenciais na adoração — “não há como servir [adorar; devotar-se] a dois senhores” (Mt.6:24). Se quisermos descobrir a quem estamos adorando, é só checar nossas prioridades de tempo, energia, relacionamento, dinheiro e recursos. Do coração de um devoto é que surge respeito, temor, lembrança e obediência. Atualmente, percebo que pouco se fala ou se questiona sobre a vida devocional dos crentes — quando isso acontece, o sentido se volta para a prática de “momentos específicos”, leitura bíblica e oração individual. Mas esse entendimento, que faz parte do costume evangélico de compartir sua espiritualidade, representa uma pequena parte da vida devocional. Renovamos nossa devoção à Deus, quando fazemos dessa atitude nosso ritual de subsistência espiritual: estudamos a Palavra de Deus, oramos, nos relacionamos com a Igreja, com a família e com o mundo, valorizamos a vida. Nossa experiência devocional se renova em nossa contínua relação com Deus, e é materializada, sobretudo, na prática do serviço e do amor. A adoração nos convida freqüentemente e espontaneamente à reatar os laços de dedicação. Por isso é que se trata de um culto racional. Penso que um bom exercício de devoção seria dedicarmos diariamente a Deus nossa existência, numa atitude de entrega e abnegação totais, manifestando um estilo de vida prático que o glorifique, transmita sua graça e misericórdia aos outros seres e que faça de nossos períodos de adoração, autênticos encontros de alegria, gratidão, expectativa e transformação.
Compartilho com vocês essa genuinidade que deve exisitir na devoção. De fato, no mundo corriqueiro nos encontramos impossibilitados de agir de uma forma devota a Deus. No entanto, o conselho de João Calvino é relevante aos dias de hoje : “Todos têm suas imperfeições. É nosso dever examiná-las; por conseguinte examine-se cada um a si mesmo e as combata.”

domingo, 11 de janeiro de 2009

O Niilismo e a resposta calvinista ao problema do nada

Postado por Felipe F. Inácio



1. Introdução
Nesse modesto trabalho, discutiremos sobre o pensamento niilista, como a humanidade se chegou até ele, as conseqüências do problema do nada e qual a resposta singela da filosofia calvinista. Esse trabalho não pretende ser extensivo, então o leitor não irá encontrar aqui uma visão completa do pensamento niilista. Iremos nos aprofundar no motivo-base religioso do pensamento niilista e de como o mundo pós-moderno abraçou esse pensamento. Nesse artigo não entenda o calvinismo como uma simples corrente teológica, passaremos a lidar o calvinismo mais como uma biocosmovisão, como uma visão geral do mundo onde Deus governa todas as áreas da vida.

2. Conceito
Franco Volpi, um grande filósofo italiano, faz uma analogia do que seria o niilismo.
“...Lembra de uma andarilho que há muito caminha numa área congelada e, de repente, com o degelo, se vê surpreendido pelo chão que começa a se partir em mil pedaços, Rompidos a estabilidade dos valores e os conceitos tradicionais, torna-se difícil prosseguir o caminho.”
Nietzsche nos traz uma resposta mais direta “Niilismo: falta-lhe finalidade. Carece de resposta a pergunta ‘para quê? ’ Que significa o niilismo? Que os valores se depreciaram.” O niilismo seria então, a perda de valores, a descrença em qualquer valor transcendente, absoluto ou cristão. É a completa perda de sentido nos valores estabelecidos pela sociedade. A crença em nada. Outra analogia bastante proveitosa para nosso estudo seria a de Nietzsche em A Gaia Ciência
“A distância. Esta montanha cria todo o encanto e todo o caráter da região que domina: tendo-nos dito isso pela centésima vez tornamo-nos bastante loucos e bastante reconhecidos para acreditar que, conferindo este encanto, deve ter em si própria o que há de mais encantador na região; subimos ao cume e ficamos desiludidos. De repente o encanto desaparece das suas encostas, da paisagem que nos rodeia e daquela que se estende a nossos pés; esquecemos que grande número de grandezas devem, como grande número de bondades, serem vistas a certa distância, e de baixo, nunca do alto... é só assim que fazem efeito. Talvez conheça pessoas do seu meio que só podem olhar-se a si próprias a uma certa distância para se julgarem suportáveis, sedutoras e tônicas: o conhecimento de si é uma coisa que deve lhe ser desaconselhada.”

Nesse aforismo Nietzsche compara o ato de subir a montanha e olhar do alto como a atitude niilista de ver na realidade o sentido dos valores. Segundo Nietzsche, as pessoas se encantam com a montanha porque olham de baixo e os valores éticos (“grande número de bondades”), estéticos (“grande número de grandezas”) e sociais (“talvez conheça pessoas do seu meio”) só são mantidos quando se tem essa ótica.
É importante notar que para Nietzsche e Heidegger o niilismo não seria um pensamento filosófico ou uma teoria, mas sim a lógica da decadência do mundo Ocidental.

3. Origem
Concentraremos-nos agora, em como essa “corrente filosófica” passou a existir. Usaremos como base de nosso estudo o pensamento nietzschiano, uma vez que ele é um dos maiores propagadores do niilismo. Segundo o filósofo alemão, o platonismo foi o precursor da decadência humana ao fazer uma distinção entre mundo verdadeiro e mundo aparente. A respeito do comportamento niilista, frente à dicotomia proposta pela filosofia platônico-socrática, ele fala: “niilista é aquele que julga, do mundo que é, que não deveria ser, e, do mundo como deveria ser, que não existe.”
Em um texto inserido em sua obra, Crepúsculo dos ídolos, chamado “como o mundo verdadeiro se tornou uma fábula” Nietzsche faz um panorama histórico de como se chegamos ao niilismo. Seu texto está esquematizado em seis capítulos sintetizados abaixo:
1. O mundo verdadeiro, acessível ao sábio, ao devoto, ao virtuoso– ele vive nele, ele próprio é esse mundo.

Nesse primeiro aspecto, se inicia uma divisão proposta por Platão sobre os dois mundos, o mundo verdadeiro ou supra-sensível, e o mundo aparente. Esse mundo só é acessível ao sábio, nessa primeira tomada, ainda não há uma divisão completa, uma vez que o mundo verdadeiro ainda é acessível.

2. O mundo verdadeiro, inacessível agora, mas aberto ao sábio, ao devoto, ao virtuoso (“ao pecador que se faz penitência”)
Nesse ponto a ruptura entre os dois mundos ocorre, o mundo sensível passa a ser desprezado, e o sentido de vida do sábio seria o mundo verdadeiro, inatingível por algum tempo. Nietzsche assemelha o platonismo com o “cristianismo para o povo”, afirmando que a postura ascética do cristianismo, faz com que o povo desvalorize o mundo sensível, julgando-o um mundo transitório, aparente e sem valor e passe a agir segundo uma fé, uma promessa.

3. O mundo verdadeiro, inacessível, indemonstrável, que não pode ser prometido, mas já, ao ser pensado, um consolo, uma obrigação, um imperativo.
Essa fase da história é caracterizada pelo irracionalismo alemão de Kant. Segundo Kant, não se pode provar o mundo verdadeiro através da razão pura, mas somente de uma razão prática, pois, segundo o filósofo, a existência desse mundo seria um bom motivo para os homens agirem com um padrão ético aceitável. A existência então do mundo verdadeiro, não passa de uma hipótese.

4. O mundo verdadeiro – inacessível? Em todo caso, inalcançado. E, como inalcançado, também desconhecido. Conseqüentemente também não consolador, salvífico, obrigatório: a que poderia algo desconhecido nos obrigar?
Nessa fase da história, marcada pelo ceticismo, o conceito de mundo verdadeiro não é mais obrigatório, não tem mais nenhum valor moral-religioso, se caracteriza pela queda do argumento kantiano da razão prática. No entanto, nessa fase da história não se chega à superação do platonismo-niilismo, pois o mundo verdadeiro, apesar de não ser consolador, salvífico e obrigatório ainda existe ontologicamente, ele só passa a ser incognoscível.


5 . O “mundo verdadeiro” – idéia que não é útil para mais nada, que não é mais nem sequer obrigatória -, idéia que se tornou inútil, supérflua, consequentemente uma idéia refutada: suprimamo-la!

A partir desse capítulo Nietzsche propaga a sua filosofia. “A morte de Deus”, conhecido em seus acalorados discursos, é o ponto proeminente nessa fase da história do platonismo-niilismo. Com essa frase ele quer dizer que os valores cristãos perderam qualquer sentido anteriormente proposto, uma vez que para Nietzsche o motivo da vida ascética do cristianismo era a promessa de um mundo supra-sensível, um mundo verdadeiro, este que foi destruído pelos próprios homens.

6. O mundo verdadeiro, nós o abolimos: que mundo resta? O aparente, talvez?(...). De forma alguma! Com o mundo verdadeiro abolimos também o mundo aparente.

Quando Nietzsche deseja abolir o mundo aparente, ele quer tão somente se desfazer da dicotomia proposta por Platão, ele impede que o mundo sensível assuma o lugar do mundo supra-sensível. Colocando em termos de valores, se abolimos os valores supremos (supra-sensível) devemos também abolir qualquer valor que o homem (sensível) tente impor. Ele não se contenta em somente “matar a Deus” ele deseja abolir qualquer outro valor absoluto.
Nietzsche em sua construção filosófica, não permite que nenhum outro valor sobreponha os valores anteriormente abolidos. O que deve ocupar o lugar que os valores vencidos preenchiam seria, segundo o filósofo alemão, a vontade do poder.
A vontade do poder é a vontade inata no homem pelo poder, é a vontade que permitiria o fluxo de nossos reais desejos, a vontade de criar, se superar, querer cada vez mais o poder e o prazer. “O que é bom? – Tudo aquilo que desperta no homem o sentimento de poder, a vontade de poder, o próprio poder.” O indivíduo que carrega em seu ser essa vontade, ele o chama de Super-homem. Sobre este ele diz:

“Amo os que não procuram por detrás das estrelas uma razão para sucumbir e oferecer-se em sacrifício, mas se sacrificam pela terra, para que a terra um dia pertença ao super-homem”

Contra essa vontade do poder, Nietzsche encontra um inimigo, que é o Cristianismo com sua filosofia enfraquecedora do espírito do homem. “O cristianismo tomou partido de tudo o que é fraco, baixo, incapaz...”. A grande ira de Nietzsche contra o cristianismo é que segundo ele, os cristãos colocam todo o sentido da vida num plano metafísico, ou seja, desvalorizam qualquer sentido da vida terrena.
A atitude de Nietzsche em abolir os valores e abolir o lugar em que estes ocupavam é chamada de niilismo ativo, em contraste com o niilismo passivo, que é a prática de substituir os valores tradicionais, cristãos e absolutos, por valores humanos.

4. Introdução a filosofia reformada
A filosofia reformada nasceu em berço holandês através da obra do filósofo Herman Dooyeweerd e D. T. H. Vollenhoven. Inspirados no movimento iniciado por Abraham Kuyper, eles passaram a ver o cristianismo como abrangente em todas as áreas da vida. Herman Dooyeweerd combatia vigorosamente contra o dogma da autonomia da razão. Para ele todo indivíduo carrega consigo uma pressuposição, um motivo-base religioso, e esse é sempre o ponto de partida de toda filosofia. A grande contribuição dooyeweerdiana é que em seu tempo, os cristãos tentavam defender o evangelho com as mesmas armas do inimigo, no caso, o humanismo secular e a escolástica católica. Ele propõe um novo sistema em contraste com essas outras filosofias, um sistema teo-referente, a filosofia reformacional.
A filosofia reformacional, trouxe uma biocosmovisão que se estrutura em criação/queda/redenção. A conseqüência desse motivo-base religioso, é que a vida que vivemos na terra deve ser vivida de acordo com o mandato cultural deixado para os homens. O único modo que um cristão verdadeiro deve viver é observando todos os aspectos da realidade como a boa criação de Deus. Então, a filosofia calvinista vai contra qualquer asceticismo cristão, pois ele vê tudo como a criação de Deus, logo inerentemente boa. A matéria, sugerida por Platão, como eterna e caótica, para um cristão reformado ela passa ser algo que o Soberano Deus criou ex-nihilo e sob total controle.
Um ponto fundamental para a cosmovisão cristã é a afirmação de que o homem após a queda sofreu os efeitos noéticos do pecado, deixando assim de pensar de forma coerente com a realidade. Tudo ocorre no Jardim, quando o homem perde a teo-referência e tenta assumir o lugar de Deus em determinar o que é coerente com a realidade. O homem constrói a partir do Éden uma pretensa autonomia, deixando de lado qualquer influência externa e passando a analisar a “verdade” como ela é. Tal autonomia é irreal, uma vez que todo homem carrega em si, um motivo-base religioso, podendo ser de obediência ou de rebeldia a Deus. Tendo em vista esses efeitos provocados pelo pecado é inconcebível a defesa do dogma da autonomia da razão.
A Filosofia reformada defende também a futura redenção completa do ser humano. Os efeitos noéticos do pecado são de natureza irreversível. Somente com a ação regeneradora do Espírito Santo é que a pretensa autonomia é lançada por terra e se constrói uma teo-referência. O homem redimido olha para todas as áreas da vida e encontra a soberania divina. Como diria Abraham Kuyper: “não há um milímetro cúbico em todas as áreas da existência humana sobre o qual Cristo, que é Soberano acima de todos, não possa dizer ‘É meu! ’ ”. O cristão tem em vista também, que a completa redenção só se dará na consumação dos séculos, quando Cristo redimir todas as coisas. Um calvinista sério, no entanto, não iria cair no erro do asceticismo cristão, pois apesar de não ser completamente redimido, todavia, a única forma que o agrada de viver, é a completa soberania de Deus em todas as esferas da vida. Então, mesmo em um mundo caído, ele vê, e assim deseja ardentemente, a Glória de Deus.

5. A resposta Calvinista ao problema do nada
O cerne do niilismo proposto por Nietzsche é a crítica da visão platonista do Cristianismo e o possível diagnóstico com a “vontade de poder”. Vamos analisar duas citações do filósofo:
“Para aquele que sofre é necessário uma esperança que a realidade não possa contradizer- e da qual satisfação alguma os consiga afastar uma esperança além-túmulo.” Ele nota que o Cristianismo não encontra sentido para a vida terrena, e passa a viver com uma esperança além-túmulo. Nietzsche propõe então a seguinte solução para o problema: “O que é bom? – Tudo aquilo que deserta no homem o sentimento de poder, a vontade de poder, o próprio poder.”
Até certo ponto a crítica nietzschiana em relação ao “cristianismo” é procedente. Não se pode conceber um asceticismo na vida cristã, esse não é o Evangelho pregado por Cristo e pelos apóstolos. No entanto, sua generalização é totalmente incoerente. A proposta calvinista é muito superior a vida ascética. Como vimos anteriormente, o verdadeiro Cristianismo mostra um profundo respeito com a criação de Deus, ele não vê sentido somente na via além-túmulo, mas valoriza a criação de Deus e encontra valores magníficos.
Abraham Kuyper nos ensina o valor da vida terrena:
“Onde quer que o homem esteja, seja o que for que faça (...) ele está; seja onde for, constantemente diante da face de Deus, está empregado no serviço de Deus, deve obedecer estritamente a seu Deus e acima de tudo, deve ter como alvo a glória de Deus.”
Aí está o âmago da filosofia reformada, que seja o que quer que façamos nessa vida, tudo tem como alvo a glória de Deus. Sendo assim, encontramos o valor da vida terrena, o sentido para a ética, para o convívio social, para a relevância do trabalho comum, que é a glória de Deus em todas as áreas da vida.
Nietzsche tem uma concepção errada sobre a origem do moralismo. Ele acredita que a moral foi imposta pelo Cristianismo, atribuindo assim, algo que é divino a uma simples vontade humana. Se em nós há amor, é porque Deus é todo amoroso. Se em nós há um relacionamento social, é porque o Deus trino se relaciona ininterruptamente. Se em nós há alguma forma de poder, é porque o Deus todo-poderoso nos outorgou.
O diagnóstico de Nietzsche é falho porque coloca o homem como centro de todas as decisões. O único “valor” que controla o super-homem é a “vontade de poder”. Para ele, devemos desprender de qualquer valor imposto sobre nós, mas ele não compreende que a ética é algo intrínseco ao ser do homem. De fato, há no ser do homem uma “vontade de poder”, é o que chamamos de natureza corrompida. Seus desejos foram afetados pela rebeldia humana de se proclamar um deus. Porém como ensinou Calvino, Deus derrama da sua graça comum sobre todos os homens e eles podem agir, mesmo que em um grau mínimo, baseados em um padrão ético.
O mundo pós-moderno sofre hoje uma completa perda de sentido, onde o único valor absoluto aceitável é a visão relativista do mundo. O homem se coloca como a verdade última, como o ser cuja escolha é suprema e não há nenhum valor externo a ele. Se o referencial dos valores está no homem, e não há valor que o transcenda, então não há sociedade, não há ética, não há conhecimento científico. Tal visão é incoerente com a realidade. Somente com o referencial divino, perdido a partir do jardim do Éden, é que iremos ter uma visão abrangente da realidade. Como diria Cornelius Van Til: “O homem tem que viver e só pode viver coram Deo.”

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Apologia e Espiritualidade: Nosso chamado radical

Postado por Onésimo Mesquita

“No princípio era o verbo (...). Nele, estava a vida e a vida era a luz dos homens”( Jo1:1,4 ARC)

1. Nosso chamado e missão
Nosso Senhor Jesus tem nos dado um chamado veemente de ir e de discipular todas as nações, e isto está acontecendo de maneira firme e poderosa, pois o Seu Espírito está capacitando e tem capacitado homens e mulheres para cumprir com amor e paixão esse chamado.
Na passagem supra, nós temos palavra e vida ao mesmo tempo, isso era a própria identidade do Verbo divino. Cristo Jesus ensinava, argumentava, discutia com os escribas, repreendia os fariseus, e as multidões ao redor reconheciam a sua autoridade, uma autoridade que era diferente da dos fariseus, pois a força e a vida do logos era que dava a autenticidade da sua doutrina.
Seguindo o exemplo de nosso Mestre, temos que praticar uma apologia que contenha embasamento sólido mas que também seja viva e espiritual, pois o nosso Mestre nos convida a aprender com ele, pois ele é manso e humilde de coração.


2. Por uma apologia espiritual
A época em que estamos vivendo é uma época de respostas a serem dadas. As perguntas de todos os lados apertam o cerco contra o Cristianismo verdadeiro. A agonia, o desespero do coração do homem pós-moderno deseja uma resposta.
Com o findar da modernidade, onde a racionalidade cartesiana exigia um veredicto acerca da existência de Deus e os seus postulados, a busca por uma ética universal baseada na razão autônoma levou a crença de que o homem é capaz de salvar-se a si mesmo, isso culminou numa rejeição total da racionalidade no mundo pós-moderno.
Nosso desafio, no tempo que se chama Hoje, é apresentar a racionalidade do cristianismo, a impossibilidade de uma existência sem a pressuposição básica de que o mundo veio a ser criado pelo Deus trino e Pessoal das Escrituras, pois todas as correntes filosóficas e cosmovisões existentes falham num ponto importante: na sua prática existencial ou na sua fundamentação teórica.
Nossa apologia vai de encontro à raiz da tensão, que é a total aversão do homem ao Deus criador, demolindo de forma racional o seu argumento e demonstrando a impossibilidade do contrário. Nessa apologia, a cosmovisão do incrédulo é colocada em xeque com a realidade, aonde a falha de vivê-la baseada no seu pressuposto se demonstrará insuficiente, pois para que a sua cosmovisão tenha certo grau de vivência o incrédulo precisa de capital emprestado do cristianismo. Observemos um caso simples, um niilista afirmando que o mundo é sem sentido, é obrigado, para viver neste mundo, dar sentido a sua vida, mas sua cosmovisão não permite isso, então ele vive no mundo amando, se relacionando com o próximo, afirmando existencialmente uma verdade do cristianismo. Isso só é possível porque ele deu um “salto de fé”, aceitando inconscientemente essa verdade bíblica.
Com isso, fica demonstrado a insuficiência de uma cosmovisão como essa, pois ela não responde a todas as áreas da vida, e quando colocada na prática, ela se autodestrói. Procedendo assim com racionalidade e consistência, argumentando de forma firme a impossibilidade de outra verdade senão a Verdade do Cristianismo, o apologista cumpre o seu papel, raciocinando com clareza no seu pressuposto firme, auto-revelado nas Escrituras.


3. Por uma espiritualidade apologista
Tendo demonstrado a verdade do Cristianismo e a irracionalidade das outras cosmovisões, temos que viver de maneira consistente com aquilo em que acreditamos, dentro de uma perspectiva bíblica essa consistência reflete em espiritualidade, pois o Cristianismo nos mostra a única ética possível, o verdadeiro modo de nos relacionarmos com os outros e isso tudo vem de uma profunda intimidade com Aquele que nos criou.
Cristo disse antes de partir: “Nisso conhecerão que sois meus discípulos, quando vos amardes uns aos outros.” Cristo enfatiza que o mundo reconhecerá a nossa identidade cristã quando amarmos uns aos outros e esse modo de ser reflete na aceitação do mundo dessa verdade, pois não terão o que falar das nossas vidas ou apontar qualquer inconsistência, pois aquilo que pregamos é aquilo que vivemos.
Nesses últimos dias o mundo rebelde e apóstata ergue-se na sua pretensa autonomia e exclama: “Onde está a razão da vossa esperança?” E o cristão firmado na palavra de Deus diz: “Cristo é a nossa esperança”